20060916

Blogosaurismos

Pois é, pois é... não é segunda-feira (desculpa lá, Jorge Palma) e é outro dia à nora das contas, das quintas angústias e das minhas próprias águas.

Amnióticas? Talvez, ainda que não do corpo mas sempre invocadoras de umbigo. Depois de ler algumas das notícias emitidas por diferentes órgãos (sobressaem umas coisas híbridas entre fígado e intestinos) e alguns comentários-notícia às notícias que passam, assim, a ser notícia, fiquei zonza com o remoinho – ou é dos meus olhos, ou o que vale é pôr os umbigos todos a andar à roda, à roda, à roda, com os inevitáveis encontrões para conquista de espaço. Não é possível levar isto a sério. Tanta rotação acaba por me dar uma ilusão centrífuga, uma quimera de que é possível apear-me do mundo. Descorçoada é uma palavra que caiu em desuso mas que eu uso, fora de moda como sempre ando.

E posto tudo isto, se anda tudo de umbigo engalanado a ouvir-se por dentro do seu próprio búzio, mais razão me apetece dar-me, neste brincar de diz mas não diz, toca-e-foge, tapa-e-mostra que, afinal, anda de inocência perdida e descorçoado há tantos anos. Hoje somos quase todos sabedores, quando não sábios à séria e acreditamo-nos donos de tanta coisa, de tanta informação que também acreditamos nas afirmações que fazemos. Geralmente contra qualquer coisa, pessoa, situação. Obviamente que ainda não percebi se temos alguma escapatória ou se esta é mesmo a nossa medida, indefectível, inexpugnável, inexorável.

Mas, depois, como somos o tal bicho gregário, por muito que nos nossos silêncios vegetativos afirmemos o contrário, recorremos ao coreto (fruto igualmente centrífugo) na esperança de algumas almofadas de águas amnióticas, onde possamos, de quando em quando, nadar sem cortes, sem queimaduras, sem alforrecas, sem protector solar.

Estava eu a escrever isto e a lembrar-me (por causa de umas passagens que li ontem de um livro do Lima de Freitas) de um episódio desses tempos em que saíamos de uma conferência do Lima de Freitas, em que uma pessoa das minhas relações acenava o seu desacordo com a cabeça, com aquele olhar de iluminado usado pelos sábios-instantâneos, quando nos querem dizer que eles sabem, que nós não, e que jamais perceberíamos se eles cometessem a imprudência de explicar-nos. Fiquei muito mais descansada ao aperceber-me que o mesmo olhar albergava o próprio Lima de Freitas no seu horizonte, principalmente porque a temática era, como se pode deduzir, demonstrável pela ciência e não aberta a apropriações especulativas... tsstss