20061024

Luminosas janelas - foscos céus

Dando-me uns gostos, andei por aí a debruçar-me pelas janelas da Ali_se, das Ideias Soltas, do Dragoscópio, das Divas e Contrabaixos. Apreciei, pelas janelas do loch, estes céus metalizados e foscos de um outono mal- encantado e tive saudades dos bons cheiros a terra depois da chuva. Lembrei-me do avermelhadas que ficam as paisagens do gharb. (Upppsss... como um safanão nos pensamentos, oiço este sino de harmonia profundamente duvidosa que, todos os dias a esta hora e durante três minutos e meio, me enreteza os nervos como unha a riscar ardósia numa verdadeira ostentação de sei lá que mensagens. Ah que até me dá saudades das velhas e simples badaladas dos sinos de aldeia, a mim que nem sequer aprecio essa vaidade de passar o tempo a marcá-lo.) Mas, a propósito do que vou vendo das minhas janelas e pelo que vi das janelas da vizinhança, falava eu dos céus foscos, dos metais mates, das questões que se tornam falsas questões ou porque Aquiles ficou reduzido a um calcanhar e a um tendão, ou porque só servem para criar tendões e ocultar calcanhares aos que não são Aquiles. E, subitamente, neste imenso cenário descolorado e neutro, as sombras chinezas vão esquissando umas que outras aparências, criando, como lhes é inerente, ilusões de substância e de probidade.

Saio do loch e incorro na tentação dinosáurica de comentar: Quanto à questão da interrupção voluntária da gravidez ou do aborto, como melhor aprouver aos léxicos partidários, creio que continuamos a considerar, a autorizar e a subscrever que determinados órgãos que governam o país tenham, entre as suas incumbências, matérias que, pela sua natureza, competem ao indivíduo, não ao cidadão. E que eu saiba, ainda há uma tremenda diferença de patamar entre individualidade e cidadania. Mas nos cúmulos das minhas perplexidades ainda se vai alcandorando mais esta de ver como nascem novéis estandartes de uma ética colada à coisa publica, como se a Ética fosse uma recém-nascida de meia-face, que até aqui tivesse andado órfã. Nestes tempos cinzentos, metalizados e mates, creio que órfã nunca foi, mas, por alguma razão que ela bem entenderá, de susto, andará a monte...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

LOL 5 estrelas!! mai' nada!

10/25/2006 12:03:00 da manhã  

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