20061003

À varanda...

Não tinha nesta varanda
mais um céu de parapeito,
que o horizonte desanda
mas eu não: perdi o jeito.

Perdi o jeito e os braços
roçados pelos cotovelos.
Caiu-me a noite em pedaços
no colo como novelos.

Como novelos de lã
que com minhas mãos fiei,
mas deu-me a febre terçã
e curar-me eu já não sei.

Já não sei dobar o dolo
nem rodar na dobadeira.
Tenh novelos no colo
e agulhas à cabeceira.

À cabeceira ainda tenho
uma lâmpada e uns pedaços
de fio com cor e um desenho.
Mas não chego lá sem braços.

Sem braços nesta ciranda,
anoitecida e sem jeito...
Quem dera, nesta varanda,
mais um céu de parapeito!