20070113

Quando o tempo ressuscita...

Quando o tempo ressuscita deixa de fazer sentido enquanto tempo. Às vezes até enquanto sentido. E é quando se consegue fugir àquela roda, a esta roda, que nos apercebemos que há um momento fora do tempo para o tempo ressuscitar. E nós com ele. Fujo da avalanche, fujo do remoinho louco dos ruídos que me dilaceram, fujo. E só digo 'fujo' porque corro - e muito - sem querer sequer olhar para trás. Só se olha para trás quando dói a despedida. Quando o tempo ressuscita é para trazer seiva nova, sangue novo, sémen novo, sete novo. Não recalcorreia caminhos, não repisa lugares, não remitiga dores nem rescancara risos. Renasce, ressuscita, suscita novamente um desbravar de medos, de ousadias, de tem-tens de esperanças e saberes. Não doba fios, mas fia em fusos francos, novos, trémulos por estrear-se. E neste intervalo - entre o tempo que sou e o tempo que sei - vou-me esfiando, ressuscitando nas condicionais, entre o que é e o que se sabe sem 'se'. Há condenados à morte, há discursos sobre ética, há debates e campanhas e votações e movimentos e... e... e... e... e... e.... e.... à exaustão, num simulacro de consciência como um papel de parede que se cola e se tira quando cansa e que até tem carrocéis e palhaços e pinceladas que tanto podem ser chuvas como árvores como pessoas - só que a inocência é outra. E eles falam e todos ao mesmo tempo e todos a acreditarem em tudo quanto dizem e todos num de cor sem coração, e todos donos de tudo e todos donos do tempo e todos tão donos das suas verdades e eu a ficar por aqui a vê-los e com vontade de perguntar se páram, se amam, se anunciam tantas boas novas quantas julgam que proclamam, se neles o tempo ressucita e há aqueles que me dizem...'Ah a poesia' e eu respondo 'pois ia....' mas se calhar não vou, não vou porque não quero e não porque o outro disse que não ia. Não vou porque cansei de pão sem manteiga e circo só com pantomina e trago nas mãos e nos pés e no útero e nas costas um outro cansaço. Quando o tempo ressuscita é para todos como o sol. E basta não ser cegos. Ou talvez baste apenas usar outros relógios - de areia mais areia, menos tic-tac de manada a cumprir ritual, menos vibração muda de cristal, menos ornamento de tempo. Quando o tempo ressuscita.... eu acho que não se mede. Mas isso sou eu. Só euzinha na minha solidão benfazeja e fértil, na minha ignorância que me abre as portas da ressurreição... Que bom chegar ao loch...

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

é uma mulher muito linda.
e hoje, deu-me para mimar os habitantes/construtores das outras cidades. e lochs, claro.

um abraço.

1/14/2007 12:20:00 da tarde  
Blogger T-Regina said...

bizantina, e, colhendo palavras da sua cidade, que bem sabe ser esmifrado com abraços e que bom esmifrar os outros com abraços!!!
Muito obrigado. Um Abraço T-Regínico e esmifrador! :))

1/14/2007 05:09:00 da tarde  

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