20070214

Entre rosas e rosas

Gertrude Stein, por Pablo Picasso
Andei a vagabundear por aí. Um bocado à toa, é certo, como em qualquer devaneio que se preze. Mas a verdade é que os passos aprendem de cor alguns caminhos e sentei-me à beira de três alpendres - este, este e este. E que alpendres! E que gostos são estas paisagens que nos metem dentro dos seus próprios recantos, consentindo-nos partilhar casa e quintal!

Depois fiquei com aquela useira urticária na ponta dos dedos, naquela danação de urgência que nos faz pianar as teclas num allegro molto energico, e ocorreu-me que a data de hoje nos remete para uma tradição que só as modernidades consumistas tornaram nossa, que antes nos contentavamos com um S. Gonçalo de Amarante, com um Sto. António de Lisboa ou de Pádua, para o caso tanto faz, mas pronto, está bem, que uma rosa é uma rosa e um postal é um postal e um bocadinho de romance, mesmo em embalagem de plástico e ritual impingido, nunca fez mal a ninguém, digo eu, e um jantar à luz de velas até cai bem enquanto as coisas não se estragam e aí é preciso tirar os castiçais da vista, não vão eles virar-se contra alguém, enfim, que a vida tem destas coisas, mas adiante, que quantas vezes nesta centrifugadora dos quotidianos até precisamos de um néon qualquer a estalar-nos o olhar dos dias para reservarmos momentos para viver o nosso amor e mimá-lo com rosas, com postais e com jantares à luz de velas.

Só que entre urticárias e santos e plásticos e rosas, acabou por espreitar um pensamento bom, com perfume, pois claro, e lá segui eu por devaneios entre O Nome da Rosa e a Rosa de Hiroxima e a 'percepção' sub-Rosae que traz ao de cima a luz, como água num poço, até das mais aparentemente óbvias soturnidades dos dias. Aliás, como dizia a Gertrude Stein A rose is a rose is a rose... Até loch:)