20070306

Indulgências

Anoitecer de um dia pardo de chuva... O trabalho também não foi realmente estimulante e nem deixou, ao menos, aquela sensação de alívio de tarefa feita, que só amahã o remato. Estará, pois, na hora do conforto: Recosto-me mais mal do que bem na cadeira, sirvo-me um simpático whisky num igualmente simpático copo, apercebo, sob o candeeiro, a gata feita novelo de sono e mimo, o caderno de capa preta e a velha Sheaffer, já com umas cicatrizes no casaco, e oiço música. Tudo isto como aconchego de fim de dia e também como busca de inspiração para uma carta. Misturam-se pensamentos: ontem soube da morte de Henry Troyat, hoje o Contra-capa recordou-me o aniversário do Gabo. Há dias homenageávamos o José Afonso e há dias homenageávamos também o Assis Pacheco. Há um ano e seis dias despedimo-nos de um outro poeta, Fernando Tavares Rodrigues. E foi com gosto que conheci na semana passada o Miguel Real e com gosto que li o último ensaio do Jorge Morais sobre Bocage. As palavras... Os autores das palavras que se escrevem sem nunca serem, de facto, possuídas. Uma apropriação legítima e com história, um transbordar dos silêncios, as mais das vezes. Que o digam, talvez, os rosários dos Buendías, ou, talvez melhor, Melquíades. Ou o Florentino Ariza ou, talvez melhor, a Fermina Daza. Palavras... Muitas, muitas palavras. Que bom!
Cumpleaños feliz y mucha salud, Gabo! Até loch!