20070304

Lista para uma tarde de Domingo, em Março

Tempo cinzento, Seurat
Uma certa melancolia, só com uma casquinha de limão, uma colher-de-chá de mel e algumas folhas de hortelã. Um ar húmido sem exageros de pantanal na pele, umas alpergatas de andarilha e um xaile arredondado e macio. Uma cana de pesca que se adivinha a prolongar uma silhueta do outro lado, um livro exumado da estante onde repousava há uns bons trinta anos, com ar de relíquia e aventuras blavatskianas contadas por um argentino, mais as tremuras das árvores e das águas, como serenos arrepios. Um eco passageiro da tagarelice de um grupo com crianças ao longe, um disparate inesperado de sol, súbito e efémero, a iluminar a reverberação de uns pensamentos, entre o estouvado e o deliciosamente simples. A ideia de um quadro, o trautear baixinho de um excerto azul de Gershwin, uma caixa de lata com pastilhas de mentol e um maço de cigarros confirmado no bolso. Uma caneta de tinta permanente, um pequeno diário de viagem com capa de pele preta a transbordar de entrelinhas. Uma ponte (de preferência japonesa), uma sintonia e um loch dentro de um loch.
Até loch!