20070317

O cárcere profundo e de pedra; a sua forma, a de um hemisfério quase perfeito, embora o pavimento (também de pedra) seja algo menor do que um círculo máximo, o que, de algum modo, agrava os sentimentos de opressão e de grandeza. Um muro corta-o pelo meio; este, apesar de altíssimo, não toca a parte superior da abóbada; de um lado estou eu, Tzinacan, mago da pirâmide Qaholom, que Pedro de Alvadaro incendiou; do outro há um jaguar, que mede com secretos passos iguais o tempo e o espaço do cativeiro. Ao nível do chão, uma ampla janela com barrotes corta o muro central. Na hora sem sombra (o meio-dia), abre-se um alçapão no alto e um carcereiro que os anos foram apagando manobra uma roldana de ferro, e baixa, na ponta de um cordel, cântaros de água e pedaços de carne.

A luz entra na abóbada; neste instante posso ver o jaguar.

A Escrita de Deus, Jorge Luís Borges