20061112

A importância das pequenas coisas

A rendeira, Vermeer
A renda de bilros... minucioso afã de dedos ágeis como adejar de colibri, colhidos num momento que para sempre se imobilizou no tempo. Poderia ser uma mulher de Peniche, onde as rendas de bilros alcançaram uma tal perfeição que para muitos passaram a ser conhecidas como rendas da praia, apropriando-se do nome da terra. E lembrei-me desta maravilha de Vermeer porque, ao jantar, a conversa também fluiu, quase tão ágil como as mãos dessas rendeiras e demos connosco a falar da importância das pequenas coisas - o gesto de impaciência de um no momento de urgência de outro, a simultaneidade de um pormenor que faz 'ganhar' o dia, o comentário atento, apesar de casual, que provará ser determinante... E sendo a vida feita de miríades de pequenas coisas, como pequenos entrançados de fios no gesto certo da rendeira , manobrando entre alfinetes no itinerário da sua almofada, possamos nós, como ela e apesar de tudo, fazer renda digna de tal nome. Até loch!