20061108

Olarias...

Uma aventura talhada no bisel dos dias. Uma escultura em movimento que se pretende cada vez mais obra-prima e onde não se querem burilados casuais. Homem ou mulher segundo as sinfonas que o Andrógino dirige ou o Hermafrodita compõe, nesta mistura estranha de vinho, sangue, néctar e água. Num pote fechado, a mirra. E num outro o incenso. Ou a mirra e o incenso num mesmo pote fechado. Ou a aparência da mirra e do incenso no pó quase invisível do ouro, numa ilusão de pote talvez fechado? -- Ay Deus, e u hé? Mas sempre esta aventura em que olho para trás e vejo com o pormenor e a nostalgia do desprendimento o que já foi e em que olho para diante e sem pormenor pressinto a cor dos momentos por colher. Sempre no mesmo desconcerto, vou nas barcas. Vou nas barcas deste Nilo ou nos bergantins destoutro Tejo. Acordo pela noite as redes na fragata, desfraldo uma vela, seguro-me a um mastro e até tomo um champagne na cadeira de um deck. Apanho o cabelo despropositadamente e deixo crescer as unhas para poder brincar com elas. Uso os olhos e as mãos e o resto do meu corpo e vou, conforme o tempo e a embarcação. Alexandria, Cairo, Ulissipo e Ur. E, se me apetecer, porque não Agra, Atenas ou Memphis ou Amarna, ou mesmo Camelot, Samarkhand, Jerusalém, salém, salaam, shalom... Uma reviravolta de gostos, de rostos e de gestos. Um passo de magia que, proavelmente só vou entender quando chegar à próxima estação... Até loch!...
(P.S.:Um sentido afago a todo o meu clan...)

Imagens:
bdhp.moravian.edu/art/needlework/mourning.jpg e www.thesacredfeminine.com