20061107

De nojo...

Foto: www.digitalreflections.biz/galleries4/nature/images/
A propósito das coisas que tenho lido e ouvido não só na comunicação social mas também aqui e aqui, e sem resistir a um comentário a aqui, quando olho para este nosso mundo, o que me parece de uma exorbitante gravidade é o facto de (e adoptemos o ar impenetrável e intelectualóide que quisermos!) não considerarmos impossíveis todas as teorias de conspiração e todas as conjecturas sobre agendas paralelas. Por um lado, umas e outras parecem nascer de perguntas tão simples e legítimas que lhes conferem matéria-prima para se desenvolverem, e, por outro, com a Ética emigrada sabe-se lá para que confins galácticos, desabituados que estamos da probidade dos governantes, alheios como andam do sentido de Estado, quanto mais de Nação, acabamos por, com uma desafectada displicência, considerá-los imputáveis de todas as urdiduras – e consentimos. Há séculos. Pior, ainda. Gostamos de vestir ares paternalistas falando de evolução e de mundo civilizado, porque hoje achamos, como método, que uma corda é mais repugnante à nossa sensibilidade humanista do que a electricidade e do que a injecção letal; porque hoje nos dissolvemos na gama de cinzentos das interpretações da Justiça e do Direito; porque nos acostumamos a reconhecer legitimidade e ilegitimidade, de acordo com cartilhas que já nem sabemos questionar; porque ganhamos pruridos semânticos e nos ufanamos em debates umbiguistas, e a dignidade de uns e de outros só toma alguma voz quando nos toca a vez de pertencer ao lado que não vai contar a história. E, ainda mais curiosamente, da compreensão pela História passa-se à justificação pela História, onde nunca se registam as histórias, múltiplas, entrançadas, enviesadas, que lhe fazem de chão. Gosto daquele termo que hoje só usamos para significar repulsa e asco, mas que, antigamente se usava para exprimir náusea, repulsão, pesar e luto, porque é isso que sinto: nojo.

2 Comments:

Blogger dragão said...

O nojo é adequado a um tempo em que a consciência "repousa em paz".
E o luto por um Homem cada vez mais quadropédico também me parece legítimo.
Quanto às teorias da conspiração, por estranho que pareça, os maiores utilizadores delas são os próprios títeres que nos (des)governam.
A cara amiga exila-se no nojo. Eu monto bateria na crueldade do humor.

Sem falsas cortesias, gostei do texto.

Saudações labarédicas.

11/07/2006 05:19:00 da tarde  
Blogger T-Regina said...

Obrigada, Dragão. Porém, se em certa medida ando exilada, o andar de nojo não me é país de acolhimento, é tão-só o estado civil numa muito minha noção de pertença à tribo, ou cidadania, se assim se preferir. Quanto à bateria montada na crueldade do humor, ora bem, Dragão, que não lhe faltem as munições, já que os alvos não correrão esse risco!
Saudações do loch.

11/07/2006 07:44:00 da tarde  

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