20061218

Carta

Caminho no jardim de Giverny, Monet

Caro Luciano,
Retirei-me um pouco mais cedo com a intenção precisa de escrever-lhe, pois, por um feliz acaso, o Horácio e a Maria Violante, que vão amanhã a Lisboa, a compras, têm pensada uma visita à sua mãe e a si, a propósito da quadra, o que mais pertinente torna que lhe enderece estas palavras, sem os transtornos das demoras dos correios. Neste ano, em que tantos tormentos afligiram as nossas casas, por vontade de minha mãe as celebrações não iriam além da ida à Missa do Galo e da presença do Padre Valentim no almoço de dia 25. Mas, sabe-se lá por que artes, o meu pai logrou convencê-la das benesses da celebração da família e da seiva fresca das crianças, mais a mais que tanto os filhos e os netos como os primos de Coimbra já mandaram recado que cá viriam e é ela agora quem se atarefa em preparativos, como se um elixir lhe tivesse retemperado a alma! Como o nosso bom amigo sabe, é sempre um imenso prazer podermos fruir da vossa presença nesta vossa casa e, cela va sans dire, o quanto apreciaríamos que se nos reunissem. Transmita à sua mãezinha que, caso vos pareça oportuno, os meus pais providenciarão a vossa vinda. O Horácio e a Maria Violante estão já instruídos com os pormenores e serão os portadores da vossa ansiada confirmação. Se considerar necessário desdobrar-se em argumentos junto de sua mãe, cá lhe entrego este: soubemos hoje que a avó Maria Pia e a tia Maria da Anunciação vão estar cá! Portanto, caríssimo amigo, como poderá prever, será uma Consoada com doçarias acrescidas. Com os nossos respeitos e afecto, a estima desta sua amiga
Maria Clara