20061203

Uma impressão de sol

Regata em Argenteuil, Caude Monet
É Domingo. Um apetite de esplanada. E de sol, a talhar a frescura acinzentada deste Outono. Está uma tarde boa para escrever cartas, daquelas que se escreviam antigamente e que eu continuo a gostar de escrever, pelo gosto dos objectos e do ritual - o papel de textura macia mas encorpada, a caneta de tinta permanente de aparo médio, uma caligrafia gostosa, por legível e pelo primeiro prazer da escrita. Claro que, falando de cartas, tenho de lembrar-me das Cartas de Paris da Ana Cristina César, de Todas as Cartas de Amor do Àlvaro de Campos, da Lettera Amorosa do Eugénio de Andrade e, claro, da Carta de Amor do José Régio. Depois, lembro-me de todas essas cartas que se preservaram ao longo dos tempos e que têm permitido a recuperação de tanto bago do passado... registos de lente própria, é certo, mas, talvez por isso mesmo, com uma reconfortante janela a ligar-nos aos autores dos escritos. Estou convencida de que hoje são muitos os que desconhecem completamente esse prazer de escrever uma carta, assim com o ritual todo, até com o mata-borrão se possível for. Um prazer sereno que liga bem com esse outro de recontar por palavras e entre-letras, deixando a quem lê o tempo e o espaço para saborear e trans-viver. Pois... Até loch.