20070608
20070517
Até breve, Graça. Até loch!...
Atravessei a rua que é o espaço que separa a minha casa da casa provisória onde ela veio passar a noite de hoje.
Despeço-me com um 'até breve' de uma Grande Mulher. Quase anónima, mas invulgarmente Grande.
O afecto fica guardado, regado com carinho e cuidados, como uma flor, no coração.
A memória guarda com igual atenção o imenso privilégio de a ter conhecido.
Graça: Até na despedida, fizeste as coisas à tua maneira, Senhora de uma Sabedoria que te estava nas veias, porque te vinha da alma.
Boa viagem, Graça. Até breve :) Creio que os teus ficam bem, que também conseguiste velar por isso... A Bênção para ti, minha Amiga.
Até loch...
20070508
Até loch.... :)
20070501
20070430
Tudo me dói. Até a memória......
Até loch se loch houver......
20070413
Janela
Até loch :)
20070401
Cante Hondo
Eu meditava, absorto, enrolando
os fios do fastio e a tristeza,
quando chegou aos meus ouvidos
pela janela do meu recanto, aberta
a uma abafada noite de verão,
o planger de uma trova sonolenta
quebrada pelos tremores sombrios
dos magos soares da minha terra
... E era o Amor, como uma chama rubra...
- nervosa mão a uma vibrante corda
cedia um longo suspirar de ouro,
que se tornava em nascente de estrelas -.
... E era a Morte, de cutelo ao ombro,
de passo longo, turva e esquelética,
como, quando menino, eu a sonhava
E na guitarra, exuberante e trémula,
A brusca mão, ao fustigar, fingia
O repousar de um ataúde em terra.
E era um plangido solitário o sopro
Que a poeira varre e a cinza acalenta.
Antonio Machado
trad. Margarida Santiago
20070329
Lenga-lenga-lenga-lenga
sem cansar, em ferro frio.
Às vezes não há trabalho
noutras é de arrepio
Mas a gente até se alegra
a julgar que se vão ver
os frutos em ‘contra-entrega’
e que desta é p’ra valer
que houve ‘gentleman’s agreement’
sorriso, aperto de mão...
mas o ‘marvellous achievement’
(são eles que o dizem, eu não!),
só terá seu pagamento
quando não sei que entidade
aprovar o provimento...
depois a contabilidade
mediante a minha factura
confirma no orçamento,
item, norma, assinatura
para poder dar andamento.
Agora é só preencher
O cheque que me vão pagar
“Hoje devem aparecer
os dois que vão assinar”,
responde-me ao telefone
a nova interlocutora
de quem não sei nem o nome,
quando reclamo a demora.
Mais de um mês já é passado
desde o pedido, de urgência,
que eu cumpri pelo meu lado.
Mas do deles... só flatulência.
Ao fim de outra semana,
lá volto a telefonar...
E oiço, incrédula, insana:
“Estão os dois a viajar...
Lamento, compreendo bem...
Sim, sim, tem toda a razão...
Mas para a semana que vem
Certamente, já cá estão!”
Dois meses já são passados
E é tarde de sexta-feira
E o cheque, daqueles traçados
Entra-me enfim na carteira.
‘Falta agora esperar -
- penso eu c’os meus botões -
- ‘que os outros que hão-de pagar
dêem menos confusões...’
Mas na segunda é feriado...
Frigorífico vazio...
No Banco conta a dobrado...
Não paguei ao senhorio...
(Eu vejo-os por todo o lado,
ostentando o seu bem-estar!...)
Dói-me trabalhar fiado
E ‘inda por cima pagar!
Até loch!
A propósito de Poesia...
Morri pela Beleza - mas mal eu
Na tumba me acomodara,
Um que pela Verdade então morrera
A meu lado se deitava.
De manso perguntou por quem tombara ...
-Pela Beleza - disse eu.
- A mim foi a Verdade. É a mesma Coisa.
Somos Irmãos - respondeu.
E quais na Noite os que se encontram falam -
De Quarto a Quarto a gente conversou -
Até que o Musgo veio aos nossos lábios -
E os nossos nomes - tapou.
Até Loch :)
20070317
A luz entra na abóbada; neste instante posso ver o jaguar.
20070314
Anúncios de Primavera
A Primavera dos Amantes chega,
para que este canteiro de pó se torne num jardim;
a proclamação dos céus chega,
para que a ave da alma se possa erguer em voo.
O mar enche-se de pérolas,
o salgueiro torna-se doce como cana,
a pedra transforma-se em precioso rubi,
o corpo torna-se plenamente alma.
Até loch...
20070312
20070310
Pele de papel pardo
Sábados e alcofas brancas
...deve ser a Primavera que começa a sorrir! Até loch :)
20070308
20070307
Callejón andaluz
Foto em: www.aromeo.net/archives/
...Até loch!
20070306
Indulgências
Cumpleaños feliz y mucha salud, Gabo! Até loch!
20070304
Lista para uma tarde de Domingo, em Março
Até loch!
20070303
Aniversário
Até loch.
20070302
Março
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
20070301
Desfolhando, desfiando, desbastando...
20070225
Adejos, arquejos e arpejos
Até loch :)
20070223
Sama
(...) Como poderá o peixe em terra seca
não saltar logo para o mar
quando do oceano tão fresco
lhe chega o som das ondas?
Como poderá o falcão não voar,
depois da caça, de volta ao braço do rei
quando ouve o tambor do falcoeiro
chamá-lo: ‘Vem, volta!’?
Por que não começará qualquer Sufi
a dançar, como se fosse um átomo,
em torno do Sol da duração
que salva da impermanência? (...)
(...) E quando alguém mencionar
a graciosidade do céu à noite,
sobe para o telhado,
dança e diz:
Assim? (...)
Assim? :) Até loch...
20070220
circuladô de fulô
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá soando como um shamisen e feito apenas com um arame tenso um cabo e uma lata velha num fim de festafeira no pino do sol a pino mas para outros não existia aquela música não podia porque não podia popular aquela música se não canta não é popular se não afina não tintina não tarantina e no entanto puxada na tripa da miséria na tripa tensa da mais megera miséria física e doendo doendo como um prego na palma da mão um ferrugem prego cego na palma espalma da mão coração exposto como um nervo tenso retenso um renegro prego cego durandona palma polpa da mão ao sol
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá o povo é o inventalínguas na malícia da maestria no matreiro da maravilha no visgo do improviso tenteando a travessia azeitava o eixo do sol circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá e não peça que eu te guie não peça despeça que eu te guie desguie que eu te peça promessa que eu te fie me deixe me esqueça me largue me desamargue que no fim eu acerto que no fim eu reverto que no fim eu conserto e para o fim me reservo e se verá que estou certo e se verá que tem jeito e se verá que está feito que pelo torto fiz direito que quem faz cesto faz cento se não guio não lamento pois o mestre que
me ensinou já não dá ensinamento
circuladô de fulô ao deus ao demodará que deus te guie porque eu não posso guiá eviva quem já me deu circuladô de fulô e ainda quem falta me dá
20070219
Cinza, cinzas e cinzentos
P.S. - Entretanto, aqui mesmo ao lado do loch, a bizantina prenuncia a Primavera e declara que aquela cidade invisível termina ali... desejo-lhe que a razão seja por estar a construir uma outra cidade de picos mais altos e luz mais radiosa!
20070215
20070214
Entre rosas e rosas
Depois fiquei com aquela useira urticária na ponta dos dedos, naquela danação de urgência que nos faz pianar as teclas num allegro molto energico, e ocorreu-me que a data de hoje nos remete para uma tradição que só as modernidades consumistas tornaram nossa, que antes nos contentavamos com um S. Gonçalo de Amarante, com um Sto. António de Lisboa ou de Pádua, para o caso tanto faz, mas pronto, está bem, que uma rosa é uma rosa e um postal é um postal e um bocadinho de romance, mesmo em embalagem de plástico e ritual impingido, nunca fez mal a ninguém, digo eu, e um jantar à luz de velas até cai bem enquanto as coisas não se estragam e aí é preciso tirar os castiçais da vista, não vão eles virar-se contra alguém, enfim, que a vida tem destas coisas, mas adiante, que quantas vezes nesta centrifugadora dos quotidianos até precisamos de um néon qualquer a estalar-nos o olhar dos dias para reservarmos momentos para viver o nosso amor e mimá-lo com rosas, com postais e com jantares à luz de velas.
Só que entre urticárias e santos e plásticos e rosas, acabou por espreitar um pensamento bom, com perfume, pois claro, e lá segui eu por devaneios entre O Nome da Rosa e a Rosa de Hiroxima e a 'percepção' sub-Rosae que traz ao de cima a luz, como água num poço, até das mais aparentemente óbvias soturnidades dos dias. Aliás, como dizia a Gertrude Stein A rose is a rose is a rose... Até loch:)
20070213
Afinal, pessoas...
20070212
Foi você que pediu... um Alka-Seltzer???
Eles são abalos, frémitos e mais tremores,
Vêm em chusmas as mui sábias reflexões,
Os comentários, as doutas explicações
- Que esta terra é toda feita de doutores!...
E quando já se me instala a agonia
E vou em busca da pastilha efervescente,
Eis que a própria terra num acesso de azia
Se adianta e freme ao largo de São Vicente
O meu apetecido e salutar arroto!
Foi um valha-me Deus por todos os canais
Da Rádio e da têvê, porque o terremoto
Passou a ser notícia melhor que todas mais
E displicentemente o sábio, génio e douto
Passou a ser serôdia matéria dos jornais.
Ah... mas não, não acabou ainda o sururu
Que há p’raí pessoas que em circunspecto brado
Acham que o sismo foi obra de Belzebu
Ou manifestação de Deus-Pai irado
Porque ontem foram mais os a dizer que sim
o que na certa p’ra eles deve ser pecado...
mas eu, pobre crente, eu tenho cá p’ra mim
que é mais sina, negro destino e fado...
Aliás, melhor farei em guardar o remédio
Não vá alguém tomá-lo em distracção
E arrotar o neurónio, que por razão de tédio
Abdica de vez da potencial função,
E ao libertar-nos, quiçá, do santo assédio
nos condenaria – cruzes credo - à perdição!
:D Até loch!
20070211
Avec le temps...
Porque só sendo esse cheiro invado o ar todo que me consome e passo a ser eu a consumi-lo, a tragá-lo num ápice do meu tempo e a fazê-lo meu.
As vozes perturbam-me e eu corro as cortinas e as persianas da alma, porque não quero ouvi-las. Só quero este naufragar autêntico com sete notas dilacerantes e autênticas, cansada que estou da plastificação das atmosferas da consciência. Não... não, ainda não foi desta que me ganzei nem alucinei para além das vísceras. Mas apetece-me rasgar . Com ruído, com aço, com raivas indizíveis como a paixão da entrega. Trepido nas minhas veias a violência extrema das minhas febres de lucidez. Sofro-me inexoravelmente e choro-me os abandonos de mim a que tantas vezes me voto. Num frémito invulgar, sou como uma onda, um fragor de aroma que nem sequer é manso. É suor. Quente, ácido, violento, transtornante. Sou o cheiro da minha semente e do meu fruto. As ilusões do andrógino já eram. Hermafrofita ou nada. Hespéride ou pevide. Útero ou odre. Avec le temps... esvai-se a alma na concentração de toda a sua substância. Reduzida à sua ínfima espécie - a mais básica, primordial e avassaladora. Paradoxos de proto-vida.
Afunilo-me. Não é muito possível mas afunilo-me. Escoo-me por um conta-gotas qualquer em busca da precipitação desejada. Uma gota de suor. Poderia ser sémen ou mênstruo, mas não. Não tem esse hino da Obra por fazer. Só tem a magia da Obra feita.
Como me torno arrogante e me humilho perante mim própria! Que dividida estou na aparência deste gosto-desgosto que na verdade mais pura que posso conceber está tão para além das simetrias, paradoxos, dicotomias à flor da pele. Avec le temps... Mas o que é este malabarismo da consciência a não ser a manipulação extravagante do aprendiz de feiticeiro?
Na proveta, uma gota mal-cheirosa de suor e no ar o mau-cheiro a sopa que tudo invade fluidamente, mas.... que garante a Obra. Ao negro, sim. O corvo canta. E canta em todo o esplendor do seu negro-azeviche e em toda a sua solidão. Garante o rubro, o branco, o escarlate, o ouro. A mirra e o incenso em dois potes descobertos esfumam-se miscigenando-se sem lógica aparente. Avec le temps.... tudo se torna fumo. Acre ou doce. Místico ou profano. E o ar todo inunda, com o tempo... com o tempo...